Vida
normal
para
o jornalismo partidarizado no Brasil
O jornalista brasileiro Guilherme Fiuza, escrevinhador
quinzenal da revista Época (Editora
Globo), abordou com indignação ao que chamou de “visita clandestina” do
governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz a José Dirceu na prisão
da Papuda em Brasília, em artigo intitulado “Vida normal para a ex-quadrilha”
publicado na edição N. 823 de 10/03/2014. A voraz argüição do jornalista
(ou na melhor das hipóteses), expressão do senso crítico de cidadão, se voltou
contra o governador da capital federal por ter “visitado clandestinamente na cadeia um criminoso, que por acaso é do
seu partido, que por acaso foi condenado por corrupção, que....” e seguem
as admoestações.
Sem pretender condenar o material
editorial em si, qualquer um pode defender que está tudo certo quanto ao
direito da tão sagrada liberdade de expressão em tempos de democracia
estabelecida à duras penas, após quase 30 anos de censura. No entanto, fica evidente
no artigo a oposição partidarizada da grande mídia (a qual abriga seus algozes
mais refinados), numa abordagem requentada de sarcasmo, ironia e desprezo ao PT
e ao governador do DF, o qual atribui o título de dublê de governador e
cortesão de mensaleiro. Senão vejamos:
Ao decretar que um governador não
pode ir a cadeia prestar solidariedade a um político condenado por corrupção, pois
isso se configura um escândalo! Ao mesmo tempo, vai de encontro à falsa indignação
que o jornalista registra, ao acusar o Brasil de inércia, pela Não reação da
sociedade (neste caso, a mesma reação indignada que a sua), a visita governador
ao ex-ministro, como se os fatos por si só, dessem cabo da ligação criminosa
existente entre ambos e, deveria ser objeto imediato, inclusive por evocação
popular, de novo inquérito no Supremo Tribunal Federal.
Não por acaso o jornalista reclama
do povo brasileiro e das instituições dizendo: “Depois esse Brasil abobado e carnavalesco não sabe por que os
companheiros representantes do povo pitam e bordam”. Na verdade, a
alegórica abordagem busca apenas promover no imaginário dos leitores da revista
a já conhecida aversão da elite nacional a conquista democrática pelo voto do
maior partido de esquerda do Brasil há quase 12 anos. Porém, no dizer popular
de Romário “Aí peixe” com uma imprensa dessas, fica fácil entender porque a
Dilma e o PT podem atingir após 2014 um ciclo de poder contínuo que abrangerá
16 anos.
Para muito além do cidadão Kane, nos
dias atuais, a nossa consagrada imprensa revela abertamente aquilo que o filósofo
italiano Antônio Gramsci já havia previsto há mais de um século: que a imprensa
se tornaria o braço político do capital (partido do capital). Talvez isso
explique porque os governos democrático-populares de esquerda no Brasil são
alvos das críticas mais mordazes da grande mídia.
Enquanto isso, os escândalos da
Veja e sonegação milionária da Globo permanecem debaixo do tapete, na ante-sala
dos grandes chefes editoriais Brasil afora. Já os mensaleiros levam normalmente
suas vidas na cadeia, após condenação e prisão decretada pelo novo herói
nacional, Joaquim Barbosa, sem direito ao trabalho e a visitas (qualquer um que
o fizer pode ser associado à ex-quadrilha).
Tudo certo, não fosse o fato de
apenas os políticos do PT, envolvidos no escândalo, estarem presos. Os demais
membros da “ex-quadrilha” e, sobretudo, os parlamentares beneficiados pela suposta
compra de voto pelo governo (os quais jamais foram acusados de nada), seguem
normalmente suas vidas, intocáveis pela imprensa que se autodefine como séria e
imparcial. Viva a imprensa e a verdade do domínio do fato, que o judiciário
brasileiro consagrou.