Jovem anarquista é a nova presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile
Melissa Sepúlveda, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile
Melissa Sepúlveda “Um dos desafios mais importantes é mostrarmo-nos como uma alternativa real”
José Antonio Gutiérrez D.
Melissa Sepúlveda, estudante de medicina de 22 anos, militante da Frente de Estudantes Libertários (FEL) e feminista libertária de “La Alzada”,
foi eleitas, em meados de Novembro, presidente da Federação de
Estudantes da Universidade do Chile (Fech) como candidata da lista
“Lutar”, com 31,2% dos votos. Esta lista é a expressão de “um espaço de
construção político e social que começa em finais de 2011 com a
finalidade de fazer convergir diferentes projetos de base existentes na
Universidade do Chile desenvolvidos por organizações e independentes de
Esquerda com Intenção Revolucionária que apontam para o desenvolvimento
de um projeto de Universidade e de educação ao serviço do conjunto
social”, segundo explica o próprio programa. A FEL foi um animador e uma
importante força dentro desta coligação ampla que não se articula
apenas no momento das eleições estudantis, mas que trabalha nos espaços
de construção e mobilização de forma permanente, desenvolvendo uma
proposta de universidade dentro de um projecto de transformação social
radical do Chile atual.
Conversamos com Melissa para que nos
explique a aposta que como porta-voz da Fech terá no período atual.
Clara e concisa, dá.nos um resumo dos desafios que o movimento popular, o
movimento estudantil e o movimento libertário têm em momentos em que,
ante a crise do modelo, o grupo no poder sente o imperativo de reformar
para ganhar em governabilidade. No fim da entrevista há um link para o
programa com que “Lutar” ganhou a presidência da Federação.
1.Os meios de comunicação social
puseram enfâse no facto de você ser a primeira presidenta anarquista da
Fech em 91 anos. Como vê este desafio para o movimento libertário, em
particular para a FEL, ainda para mais quando assume não só o cargo
máximo de representação da federação estudantil mais importante, mas
também de um dos movimentos sociais mais importantes do país?
Um dos desafios mais importantes neste
momento é poder mostrarmo-nos como uma alternativa real, para além do
marginal que é a esquerda revolucionária… que não tem existido senão
como uma esquerda à esquerda do Partido Comunista. É um desafio
importante para a FEL porque através da federação, que é uma das vozes
mais importantes dos movimentos sociais a nível nacional, podemos
traduzir a aposta política para este período numa linguagem
compreensível para a população. Também procuramos desestigmatizar o
anarquista e o libertário que os meios de comunicação reflectem
constantemente para a opinião publica.
2. Como vê a articulação entre o movimento estudantil com outros movimentos sociais?
Bom, essa é a primeira aposta que temos
em “Lutar”. O que se procura é dar uma volta à condução da Fech para
conseguir a articulação com outros sectores sociais. Nós afirmamos que a
educação não é apenas um problema dos estudantes, mas sim que é um
problema da desigualdade existente no Chile, e essa distribuição
desigual da riqueza tem reflexos no modelo educacional, no modelo de
saúde, na realidade laboral. São faces distintas de um mesmo problema e
por isso procuramos a unidade dos sectores que se mobilizaram contra
este modelo, fundamentalmente com o sector sindical, tentando articular
um bloco multisetorial.
3. Uma das palavras de ordem do
movimento anarco-comunista no período de rearticulação, que foi também
assumida pela FEL, é que a unidade do povo deve ser forjada a partir de
baixo e da luta… Como é que interpreta esta palavra de ordem?
Como uma aposta pela multisectorialidade.
Fomos claros em que as alianças entre os dirigentes dos estudantes com a
CUT (Central Sindical chilena) ou com a União Portuária não são
suficientes, que os trabalhadores de base, que os estudantes de base,
são parte de um mesmo projecto histórico e que deve ser construída uma
unidade solidária, cooperativa, entre trabalhadores e estudantes de
base.
4. Não é um segredo para minguém
que se vive uma escalada das lutas populares no Chile e que diferentes
sectores elaboraram diferentes propostas para enfrentar a conjuntura,
alguns falam de assembleia constituinte, outros de ruptura democrática,
etc. Você fala em traduzir a aposta política deste período para uma
linguagem acessível para o comum das pessoas, de forma a converte-se
numa alternativa real. Em que consiste essa alternativa?
O que está mais claro é que o actual
período está marcado pela irreformabilidade do modelo neoliberal chileno
e pela instabilidade que estão a gerar ou que podem gerar os movimentos
sociais. Bachelet (presidente chilena) tentará dar governabilidade ao
país. Têm que fazer reformas, sabem que o fechamento institucional que
tem existido no Chile desde a ditadura tem que acabar. Se essas reformas
colocam os movimentos sociais num novo patamar para a luta de classes
no Chile, isso depende dos movimentos sociais, não é Bachelet que o
cederá gratuitamente, mas deve ser uma conquista do povo. Há certos
pontos chave de não retorno para este novo cenário de luta que devemos
ser capazes de determinar… há alguns que foram colocados pelos
movimentos sociais desde 2005 para diante, como o sistema presidencial,
um código laboral que permita a negociação coletiva, a reforma
tributária, a educação, a redistribuição da riqueza mediante reformas
na educação, reformas tributárias, a mesma capacidade de negociação
coletiva.
Sabemos que se precisa de uma nova constituição, mas há que
discutir muito bem a proposta da Assembleia Constituinte, porque há que
ver se isso é favorável ao movimento popular ou não. Bachelet tem
legitimidade popular, isso é dito por todas as sondagens e assim é na
verdade, mas ainda há muito medo devido à ditadura, medo a mudanças
radicais e profundas… há que valorizar criticamente todas as propostas,
porque todos estão de acordo em que o modelo necessita de mudanças.
(tradução CLE).
Mais informações aqui: http://anarkismo.net/article/26440
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