segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A autogestão da sociedade se constrói na autogestão da Lutas


Por Wellington Lucas*


Considerando Bernado (2005) temos o seguinte paradoxo quanto a importância da autogestão das organizações na sociedade capitalista, senão vejamos: "Contrariamente ao que afirma a esmagadora maioria dos políticos e dos estudiosos da política, umas das principais caraterísticas da sociedade capitalista é o fato de o Estado não se limitar as instituições que formalmente o compõe: governo, parlamento, polícia e tribunais. No capitalismo o Estado, muito mais do que um conjunto de instituições, é o conjunto de princípios organizacionais que deve presidir à estrutura interna de todas as instituições, mesmo as que não lhe estejam diretamente ligadas. Desse modo, qualquer instituição que reproduza internamente este sistema não só se submete ao Estado capitalista como se integra nele. Isto ocorre até mesmo com instituições que se apresentam formalmente com se fossem autônomas (as estruturas partidárias e, sobretudo as cooperativas são alguns exemplos).

Nos movimentos sociais, empresas autogestionadas, cooperativas, etc, existe uma remodelação das relações sociais de trabalho? Ou na sua organização interna existe uma minoria de gestores que decide, e portanto explora, e uma maioria de trabalhadores que executa, e portanto é explorada? Portanto, podemos avaliar a autonomia das organizações a partir da sugestão de Bernardo (2005), o qual afirma que o critério fundamental que devemos seguir para avaliar a autonomia das organização é a forma de organização interna.

A remodelação das relações de trabalho implica na conversão das relações verticais de hierarquia em relações horizontais de solidariedade e de coletivismo, especialmente o direito de todos darem a sua opinião, a rotatividade das funções e nas tarefas e a possibilidade de revogar em qualquer tempo os mandatos dos representantes e das pessoas eleitas para os cargos de coordenação. Isto, aplicado na prática, possibilitará a construção de um ambiente ideal de autonomia e autogestão das lutas, pois em qualquer luta importa mais a forma de organização dos participantes do que o conteúdo ideológico, afirma Bernado.

Assim, enquanto as empresas não forem geridas pelos trabalhadores e não por patrões (de direita) nem por tecnocratas (de esquerda), enquanto a sociedade não for administrada pelos trabalhadores e não por políticos profissionais (de direita e esquerda), o capitalismo continuará a existir e, no máximo, mudará de forma, sem alterar o fator básico da exploração, o trabalho. Não obstante, gerir as empresas e a sociedade é algo que se aprende de uma única maneira: gerindo as próprias lutas. Só assim os trabalhadores podem começar a emancipar-se de todo tipo de especialistas e burocratas.

Dito de forma emblemática: sem a autogestão das lutas a autogestão da sociedade jamais será possível. É esta a única maneira sólida como os trabalhadores podem, no plano prático, reforçar progressivamente a sua capacidade de organizar as empresas e a sociedade e, no plano ideológico, forjar uma consciência de classe!


Texto extraído e adaptado a partir do artigo "A autogestão da sociedade prepara-se na autogestão das lutas" de João Bernado*


(*) João Bernado é escritor e militante político português. Atualmente faz parte do grupo que mantém o site PassaPalavra, participando como escritor. O site cobre e publica lutas sociais e apresenta textos para reflexão e debate.

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